Não é novidade para ninguém que uma das categorias mais ameaçadas no mercado de trabalho é a de cobrador de ônibus. Com o corte de gastos e as novas tecnologias, muitas empresas têm optado por demitir os empregados que ocupam apenas essas funções.
No entanto, esta medida tem causado vários transtornos no seio da população de Belo Horizonte. Isto é não apenas no que tange o desemprego, mas até mesmo dentro dos próprios ônibus coletivos que circulam na cidade. Até o momento, vários acidentes já foram registrados devido à ausência do cobrador como auxiliar de bordo.
Com a extinção desse cargo, há também a sobrecarga de trabalho nos motoristas de ônibus, sendo esse um dos pontos mais questionados na decisão em Belo Horizonte.
Saiba mais a respeito deste assunto a seguir na continuação deste artigo. Conheça ainda algumas situações que os mineiros estão vivendo diante desta problemática.
Desemprego e sobrecarga no trabalho
Em um período de mais de quatro anos, Mary de Pádua Alcântara atuou profissionalmente na função de cobrador de ônibus na cidade de Belo Horizonte. Desde o mês de outubro de 2018 entretanto, Mary se encontra desempregada e insistentemente, em busca de uma nova oportunidade.
A ex-cobradora começou a perceber uma movimentação estranha neste mercado quando estava trabalhando em uma estação do MOVE. Na altura do mês de abril do ano passado, ela observou que os cobradores, que muitas vezes atuam como agente de bordo, estavam sendo despedidos. Segundo ela:
“Primeiro, retiraram os cobradores das estações. Depois, quem era das estações foi para linhas de bairro a bairro, pois na estação já não tinha mais operações. Foi gradual: tiravam cinco em uma semana, depois mais três. Uma hora ou outra, sabíamos que ia ser com a gente também. Quem não tinha opção de carteira pra ser manobrista ou garagista não foi aproveitado”
Enquanto isso um outro caso de demissão, mas dessa vez foi a de um motorista. Quando a empresa em que Carlos Gilmar de Jesus trabalhava começou a despedir os cobradores, ele foi contra. Afinal, retirar estes empregados implicaria na duplicação de seu trabalho.
“A gente sempre tinha o cobrador para olhar a porta, bater a pratinha, a gente podia fechar a porta sem preocupação de apertar o usuário na porta. Quando tinha cadeirante, a gente ficava no volante e eles resolviam a situação. Depois que tiraram, começaram a acontecer acidentes”.
Função de cobrador deveria ser mantida por lei
Na legislação do estado de Minas Gerais, o auxiliar de bordo é um empregado imprescindível para o bom funcionamento da mobilidade urbana. A lei de número 10.526 de 2012 determina que a função seja garantida. A única abertura para ausência é em horários noturnos e aos domingos e feriados.
No entanto, despedir o cobrador de ônibus sai mais vantajoso para as empresas. Afinal, os gastos com os salários eram bem maiores do que a multa que as companhias precisam pagar.
Em um estudo publicado pelo movimento Tarifa Zero, é possível perceber que a economia anual gerada para essas empresas com as demissões é de, aproximadamente, R$ 22 milhões. É válido ressaltar que, o valor não é para a redução total desta equipe de empregados, mas de menos de 40%.
Ou seja, a vantagem é grande para as empresas. Quem realmente sai perdendo são os cidadãos que ficaram desempregados e os usuários dos serviços, que agora contam com mais riscos. Além disso, há também a possibilidade dos motoristas também serem substituídos, mas dessa vez pelas máquinas.